3.     O contexto das passagens difíceis. Mas voltemos às nossas passagens difíceis, agora examinando o contexto imediato no qual elas são encontradas.

Hebreus 6.4-6, não pode ser lido isolado dos versos 7 e 8. Estes versos dizem: (7) Porque a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus;(8) mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada.

Vemos nesses dois versos a harmonia do texto em Hebreus, com a parábola do semeador, encontrada em Mateus 13.18-23. O v. 22 é de especial importância. O trecho, em Hebreus, não está falando dos verdadeiramente salvos, mas dos semeados em espinhos. Eles recebem a chuva, igual à que cai na terra fértil, ou seja, “provam o dom”, no sentido de que são participantes das bênçãos, mas são sufocados pelos cuidados do mundo. Muitos aparentam seguir o evangelho; fazem parte dos ajuntamentos e atividades das igrejas; mas o coração não está regenerado. O texto em Hebreus não fala em “perda da salvação”, nem em impossibilidade de um crente cair em pecado e não ter condição de se arrepender, mas daqueles que demonstram, ao longo do tempo, que nunca foram convertidos.

Semelhantemente, 2 Pe 2.20-22, deve ser lido a partir do verso 9. Os que “escapam” do mundo conhecem, mas voltam ao erro, são contrastados com os “piedosos”. O texto de Pedro diz: (9)Porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar sob castigo os injustos, para o dia do juízo; (10) especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores, (11) ao passo que anjos, embora maiores em força e poder, não proferem contra elas juízo infamante na presença do Senhor. (12) Esses, todavia, como brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal daquilo em que são ignorantes, na sua destruição também hão de ser destruídos, (13) recebendo injustiça por salário da injustiça que praticam. Considerando como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia, quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas suas próprias mistificações, enquanto banqueteiam junto convosco; (14) tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado, engodando almas inconstantes, tendo coração exercitado na avareza, filhos malditos; (15) abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça (16) (recebeu, porém, castigo da sua transgressão, a saber, um mudo animal de carga, falando com voz humana, refreou a insensatez do profeta). (17) Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas;(18) porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro, (19) prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor.

O trecho claramente fala de ímpios. Eles conheceram o caminho da justiça, porque aderiram fisicamente à igreja, relacionaram-se com o Povo de Deus, ouviram incontáveis exposições da Palavra. No entanto, em seu espírito e em suas obras, nunca experimentaram conversão. Por isso, nos versos 20 a 22, eles são comparados a porcos que voltam ao vômito. Viviam em um clima limpo, eivado de ensinamentos proveitosos à vida. Levam sobre si a condenação de rejeitarem a tudo isso e ao Senhor da Glória.

Conclusão:
A Palavra de Deus deixa claro, em muitas passagens, que somos salvos para sempre. Por isso Paulo ensina em Romanos que Aquele que iniciou a obra em nós é poderoso para completá-la (Filipenses 1.6). Obviamente, isso não é encorajamento para o pecado, mas motivo de ações de graças – somos salvos pelo poder de Deus e preservados por este  mesmo poder, não por nossas frágeis forças.

Os dois trechos que examinamos ainda que difíceis, são entendidos pelas explicações de João e pelo contexto imediato das passagens. Devemos confiar no preservador da nossa salvação e nunca devemos nos abalar ou permitir que dúvidas sejam colocadas em nossa cabeça. 

Solano Portela

Por: Solano Portela
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Solano Portela

Presbítero e membro da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, São Paulo, graduado em Ciências Exatas (B.A em Artes 1971), fez o mestrado (Th. M) em Teologia Sistemática no Bíblical Tehological Seminary (EUA, 1974). Solano Portela, além de suas atividades no campo empresarial, em São Paulo, é professor, escritor, educador, tradutor e conferencista. É casado co Elizabeth Zekveld Portela e tem 3 filhos (David, Daniel e Darius) e uma filha (Grace).