(Foto: Maique Borges) — Foto: Cooperadores do Evangelho

Antes da composição dos primeiros livros do Novo Testamento, a fé e os ensinamentos cristãos eram transmitidos oralmente, ou seja, a mensagem era pregada (Mc 16.15; At 2.14; 6.4; Rm 10.14,15). Os apóstolos e discípulos de Jesus usavam principalmente o Antigo Testamento e seu testemunho vivo de vida para convencer seus patrícios. Após a morte de Jesus, passaram cerca de duas ou três décadas até ser composta a primeira literatura cristã. Esse hiato vagaroso se deu devido a algumas razões básicas:

  1. Os cristãos se preocupavam mais com a parousia, por isso a pregação oral e rápida do evangelho se fazia necessária (Mt 24.14).
  2. A maioria dos cristãos era composta de pessoas iletradas, sem qualificações necessárias para levar a cabo tal obra.
  3. Os apóstolos, testemunhas oculares de Cristo, pois andaram com Ele, ainda estavam vivos.
  4. O alto custo do material de escrita da época.

Mas não demorou muito e a necessidade de escrever logo se fez sentir dentro da comunidade cristã. 

Logo após as cartas de Paulo, os evangelhos foram compostos visando reunir as “logias” (palavras) do Senhor. Lucas, por exemplo, fez uma acurada investigação dos fatos ao recorrer às testemunhas oculares (Lc 1.1-3). Em parte, essa produção foi influenciada pelas distâncias geográficas. A urgência de colocar os ensinamentos dos apóstolos e de Cristo na forma escrita se fez necessária à medida que as comunidades cristãs iam se multiplicando. Além disso, com a morte dos apóstolos, encerrava-se o canal de comunicação vivo e verdadeiro das doutrinas de Cristo. E, já que os judeus tinham seus livros sagrados (Lc 24.27), os cristãos também deveriam possuir os registros sagrados da sua nova religião, e em pé de igualdade com os escritos do Antigo Testamento.

Assim, vieram primeiro as epístolas do apóstolo Paulo, depois, os evangelhos, as epístolas gerais e, por fim, o livro do Apocalipse.

 

1. Evangelhos Sinóticos

Marcos inicia seu evangelho com a seguinte frase: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (RC). O termo euaggelion significa “boas-novas”. A princípio, era a mensagem pregada pelos apóstolos sobre a pessoa, a vida e a obra redentora de Jesus Cristo. Com o passar do tempo, essas boas- novas foram assumindo a forma de quatro biografias escritas por autores diferentes, segundo a perspectiva de cada um e para determinado público. 

Essas quatro obras são as mais confiáveis e as mais antigas fontes sobre a vida de Cristo. Os evangelhos formam dois grupos: os sinópticos (os três primeiros) e o de João (o quarto).

“Sinóptico” é um termo formado por duas palavras gregas syn, que significa “com”, e opsis, que traz a noção de “ótica, vista”. Assim, o significado da palavra sinóptico é “visão conjunta”. Esse termo parece ter sido aplicado primeiramente pelo crítico textual J. J. Griesbach, por volta de 1774. 

Os evangelhos denominados sinópticos compreendem Mateus, Marcos e Lucas, isso porque são uma sinopse da vida e da obra de Cristo. O crítico acima citado e outros estudiosos descobriram muitas semelhanças no conteúdo, na estrutura e no enfoque entre os três evangelhos. Mateus, Marcos e Lucas descrevem a vida de Cristo de maneira harmoniosa, e isso devido à abundância de material em comum que apresentam. 

Mateus e Marcos possuem 600 versículos em comum. Marcos e Lucas 350. E Mateus e Lucas 235, os quais faltam em Marcos. Há 31 versículos em Marcos sem coincidir com Mateus ou Lucas. 

Somente Mateus e Lucas contam o nascimento e a infância de Jesus, e também sua genealogia. Mateus e Marcos concentram seus evangelhos no ministério que Jesus exerceu na Galiléia. E Lucas, na Peréia. Os outros omitem o ministério da Judéia, exceto a última semana. 

Embora formem um todo harmônico quando postos em conjunto, cada um deles, no entanto, produziu seu evangelho de maneira própria, segundo sua ótica. O que falta em um aparece no outro. De modo que as aparentes discrepâncias são, na verdade, complementos das narrativas que formam a biografia de Jesus Cristo. 

Há quem interprete os animais de Apocalipse 4.7 (o leão, o boi e a águia) como uma referência ao perfil que os quatro evangelistas quiseram passar de Cristo aos seus destinatários. O leão representa realeza. O boi, Jesus como “servo”, o homem Jesus como o filho do Homem. E a águia, Jesus como aquele que veio do alto: o Filho de Deus.

 

2. Mateus

É considerado o autor do primeiro evangelho. Segundo Papias, Mateus escreveu seu evangelho em hebraico. Contudo, a maioria dos estudiosos protestantes não atesta essa procedência, isso porque nenhuma cópia desse evangelho em hebraico foi ainda encontrada. Mateus focaliza Jesus do ponto de vista messiânico. Jesus é o esperado Messias, o rei aguardado pelo povo de Israel, por isso é apresentado pelo autor para uma comunidade judaica. São abundantes os textos-prova do Antigo Testamento invocados por Mateus como auxílio em sua persuasão literária. Uma frase comum no evangelho é: “Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito” (1.22). 

3. Marcos

Dos quatro evangelhos, é o menor. Muitos estudiosos acreditam que Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito. Fora dedicado aos romanos, pois apresenta Jesus como “o Servo”, aquele que veio realizar as obras divinas (1.14). Possui um teor dinâmico, por isso palavras como “logo” (1.10,18,28) “imediatamente” (1.31), que exprimem ação, são usadas de modo abundante no referido evangelho. 

4. Lucas

Ao contrário de Mateus, Lucas escreveu seu evangelho aos gentios, por isso muitas palavras são explicadas aos leitores e o vocábulo “gentio” é usado em lugar de termos tipicamente hebraicos. O autor teve o cuidado de inserir o maior número de detalhes em sua obra. Escreveu aos gregos e sua preocupação maior é apresentar Cristo como o Filho do homem (19.10) perfeito, já que os gregos prezavam muito a estética.


Por: Maique Borges
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Maique Borges

Maique Borges

Maique de Souza Borges, é teólogo, estudante e amante da música sacra. Membro da Igreja Assembleia de Deus em Brasília, casado e pai de um filho. Tem interesse especial pela História da Igreja. É o criador do site Cooperadores do Evangelho. Profissionalmente atua no ramo farmacêutico e brinca de músico e programador nas horas vagas.